Número quatro - o último dia da ExpoFoda

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QUENTES E BOAS

 

O campeão dos vibradores, salvo contabilidade em contrário: Toy Joy, 72 velocidades, cozinha, casa de banho e solário. É de meter na cona e chorar por mais. Ficou perto da centena de unidades.

Stand: DXD. Viva a Bélgica! Gajos simpáticos. Eles para mim:

- É até para o ano?

- É que é já a seguir.

 

United Colours of Brasileiron. Mais de um milhar de caipirinhas, caipiroscas e derivados vendidos em quatro dias e quatro noites. Onde? “Caipiródromo”.

A equipa do técnico brasileiro Jorge Alberto (Rio Grande do Sul), ausente em parte incerta e substituído na altura pela sua adjunta portuguesa Ana Maria Raimond (muito satisfeita com os resultados financeiros do escrete) alinhou com:

Valdirene (S. Paulo, adepta do Corinthians); Viviane (S. Paulo, Palmeiras); Elaine (Curitiba, Atlético Paranaense); Solange (Rio de Janeiro, Flamento). E não houve porrada entre cariocas e paulistas?

Néribi. Era sempre a dar-lhe a aviar copos.

 

As saudades do “Estúdio 444”. Era um belíssimo cinema na Av. Defensores de Chaves, onde até já quase não há putas.

Olha, a cara daquele senhor que está ali não me é estranha. Pois não. É o senhor Vasco Figueiredo (acho que é Figueiredo, não percebo o meu gatafunho, já é muito dia a dormir pouco. Mas acho que é. Se não for, desculpe o mau jeito), responsável pelo visionamento de filmes e secretário da empresa. E agora também no negócio da pornografia.

O “444” já foi à vida há um ror de anos.

E ainda dói?

- Dói e muito.

- Já via pornografia antes das suas funções actuais?

- Via lá no cinema.

- Não me lembro nada.

- Foi logo a seguir à revolução. Umas sessões especiais, de madrugada. Talvez até tenha contribuído para deitar abaixo o cinema.

Vi lá “ O raio verde” do Rhomer, o fabuloso “O duelo”, de Ridley Scott. O “Metropolis”, em versão restaurada, com Brigitte Helm ao som de  Giorgio Moroder.

Um dia, dois putos atrás de mim não se calavam num filme.

Virei-me para trás, fiz voz grossa e disse:

- Vocês ou mandam bocas com piada ou estão calados.

Resultou. Silêncio até ao final do filme.

 

Vesúvio zangado.

O Salão correu bem a todos os “stands”. Todos? Não. Um “stand” (Vesúvio) resiste ainda e sempre à azia de ter ficado “entalado” entre a agência de viagens e um bar pouco utilizado.

- Este lugar não deu hipóteses - desabafou um funcionário, enquanto arrumava o estaminé e um segurança vinha acalmar: “Podem ir mais devagar, têm até às 23 horas”.

- Mas está perto da entrada.

- As pessoas circulam pelo outro lado.

- Quando é que souberam da distribuição de stands?

- Aí uns dez dias antes.

- E não deu para tentar corrigir?

- Já não havia nada a fazer. Há mafias.

- Olhe que eu vou escrever isso.

- Escreva. Eu assumo. Ando há 15 anos na pornografia. Até já disse isto a algumas pessoas. Mas para o ano estamos cá outra vez.

 

(Ouço “Corações de Atum”. Oito da matina. Já bebo água. Já abano).

 

Do ténis de mesa ao pénis com ela bem tesa.

Um jogador de top do ténis de mesa nacional a passear no Salão com a namorada.

- Tudo bem?

- Tudo bem.

- Posso bater uma foto e fazer uma notinha?

- Eh! Nem pensar... (sorriso, como quem diz, ‘ó pá, tu não me entales’).

- Ah! sim? Bem, de qualquer forma vou dizer que foi um jogador de top que andou a passear aqui...

Sorrisos. Uma vez, no Galeto, cheguei de um jogo do Inatel, saquei-a para fora e mostrei-lhe:

- Ahnn? É a minha Tackifire bem preta.

Estava a mostrar o revestimento da raqueta. Ele não conhecia. Último modelo.

Quando o “smash” entra o adversário nem a vê. É pena não entrar tantas vezes quantas as desejáveis. Uma vez fui a uma jantarada do final da II Divisão Regional. Éramos uns 40. Pus-me a olhar os convivas um a um e dei comigo a pensar:

- Foda-se! Sou mesmo o pior jogador desta malta toda.

Nessa altura, o parceiro do lado disse-me:

- Tira aí um caracol.

Não tirei. Não gosto de caracóis.

 

T-shirt preto: Homefucking is killing prostitution. Tradução: “Foder em casa está a dar cabo da prostituição”.

 

(“Se bates com a carola na parede, por uma mulher, não partas mais a tola, mata a sede, com outra qualquer”, tema 6, ‘Velho truque’)

L.G.

 


  

CARALHO, NÃO SABES ONDE TENS O CLÍTORIS?

 

“Cine Paraíso”. Uns vinte gajos na sala. Uma vez mais, ninguém sabe qual é o filme que se projecta. Vejo duas meninas muito novinhas a meio da sala. O Luís Graça senta-se e entabula conversação.

- Posso? Sou jornalista.

As meninas eram a Ana (a ver um porno pela primeira vez) e a Catarina (que já tinha visto, mas pouco). Colegas de turma em Engenharia do Ambiente, sentadas ali por curiosidade.

Dos nomes do porno, a Ana só se lembrou do ex-realizador Sá Leão. Mas em casa dela não há problema nenhum se se souber que ela esteve no Salão.

Já em casa da Catarina as coisas não são as mesmas. A família pode não reagir bem.

- Mas o sexo é uma coisa natural - digo eu.

E a Catarina: “Em minha casa não se fala disso. Não sei qual seria a reacção se soubessem que eu estive cá”.

Olho para o ecrã. Vê-se um grande plano de uma menina a esfregar vigorosamente o clítoris. Testo os conhecimentos da juventude e mando a pergunta para a geral:

- Olhem lá para o ecrã. O que é aquilo? O que é que a menina está a fazer?

E a Ana, muito espantada:

- Não sei.

- É o clítoris! Então? Acabam de perder um fim-de-semana em Cancun, com tudo pago e direito a vibrador na mesinha de cabeceira.

- Ah! isso... - afinal, parece que a Ana até sabia, mas não tinha percebido a matéria.

Despedi-me. E como as meninas eram do primeiro ano de Engenharia do Ambiente, disse-lhes:

- Telefonem-me daqui a cinco anos. Tenho amigos geólogos. Para fazerem um estágio à borla.

E saí da sala, para mais uma voltinha, já muito amargurado com o final do salão. Um mês assim e eu não me chateava. Além do mais, farto-me de encontrar amigos.

L.G.


  

O JOÃO TEM UM SONHO

 

Ainda fui até à zona da Melany Moore onde vi o João, 34 anos, funcionário público, no palco com as russas Kathy e Natalie. O João foi desafiado pelas meninas e foi para o palco na boa. É um homem impulsivo, mas tem um ar muito calmo. Gostou do festival e só acha que faltou o sexo ao vivo. Gostou dos shows todos. Vê DVD, vê Net, gosta de pornografia americana e europeia.

“Vejo tudo”.

Passado um bocado, o João veio ter comigo a perguntar como é que era a cena do casting para actor porno. Levei-o à já abandonada zona da Natural Video e recolhemos uns panfletos com os contactos.

Toma lá um bacalhau e boa sorte na tua carreira actual, ó João. E boa sorte também com esse sonho lindo da representação penetrativa.

Deixa lá aí uma mensagem para o público:

“Bom ano para todos e voltem em 2006”.

Ainda comprei um CD-ROM à Natalie.

- Quanto é?

- Dez euros.

- Toma lá. O que tem isto?

- Sou eu na praia.

- E tem sexo ao vivo?

- Não. Não faço sexo.

Foda-se! Andam mesmo a gozar com um gajo.

Vem a colombiana Samantha para o pé de mim, já à civil, em fim de feira:

- Tens aí uma caneta?

- Leva esta. Tenho outra.

Bruxo. A Melanie já me tinha pedido. Dei a caneta e pronto. Não dei foi a minha Parker France III C, dada pelo meu amigo João Pedro. Já não se fabrica.

Jornalista precavido, como eu, anda sempre com várias canetas. Andei na feira com cinco.

Eu nunca me fui abaixo das canetas.

L.G.


   

O CARAVANA PIMENTA

DOS FILMES COM PIRI-PIRI

   

“Cine Paraíso”. Entro. Olha um amigo meu. Nome: Manuel Caravana Pimenta. Grande amigo de um grande amigo meu.

- Então, tudo bem, Manel? Que filme é este?

- Não sei.

- Vês muito porno?

- Tenho para aí uns 30 ou 40 VHS. E até fiz uma vez um filme porno caseiro, com uma amiga minha, aí há uns 15 anos. Foi só uma vez.

- Ai, com que então temos realizador! Só tu é que filmaste?

- Fixei a câmara e de vez em quando ia lá mudar. Foi só nessa noite. Mas ainda levámos umas duas horas naquilo.

- Então e falaram mais para a câmara, por estarem a filmar?

- Não, foi tudo normalmente. Não havia guião. Foi só brevemente planeado.

- Olha lá, quanto é que davas ao teu filme, de 0 a 20, em termos de porno amador?

- Eh! Pá...de 0 a 10?

- Não, de zero a vinte.

- Aí um 15. Aquilo estava jeitoso.

- Então e ela, o que achou?

- Olha, ela acabou por nem o ver.

- Então e agora, compras muitos filmes?

- Pá, tenho uma parabólica, por isso...

- Diz lá a tua actriz favorita.

- Não ligo muito a nomes. O meu filme favorito talvez seja um da Cicciolina. Eu conheci-a no Coliseu.

- “Chocolate e bananas”?

- Não me lembro.

- Falaste com ela?

- Não. Estive ao lado.

- Por cima ou por baixo deve ser melhor.

 

(Um senhor com visíveis deficiências mentais começou a esfregar-se por cima das calças à vista de todos. Mas era uma forma de masturbação estranha)

 

- Ó pá, o homem ainda se suja todo.

- Pois é, Manel. Obrigadinho. Dá um abraço ao Luís, quando o vires.

- Será entregue. Bom trabalho.

- Obrigado. Prazer em ver-te.

- Igualmente.

Fui-me.

L.G.


 

O CANIBAL DA BEST COCK SM

(enquanto ouço “Sempre Gal”, um best of)

 

Não sei se um senhor da Best Rock FM (rádio do Salão) entrou no filme “Os canibais” do Manoel de Oliveira. Mas é um facto que tem o rei na barriga. Só não faço ideia qual é o rei.

A história é esta: resolvo ir até ao posto deles, para trocar umas palavras sobre a experiência. O posto dos gajos era tipo torre de menagem, assim estilo contentor, com uma escada de metal. Imaginem a entrada para um sótão.

Cá de baixo não se vê nestum lá para cima. Não há avisos a dizer “Cuidado com o cão”, ou “Entrada proibida a pessoas estranhas” (aí eu não entrava). Como queria falar com alguém (em trabalho, caralho, em trabalho) subi. Cheguei lá acima e não havia ninguém.

Como o ângulo do Salão era porreiro, aproveitei para tirar duas fotos com um plano geral do Salão. Não sei se o vidro fez reflexo. Demorei-me aí uns dois minutos lá em cima.

Quando estou a descer, chega o senhor Canibal. E com maus modos:

- Quem o autorizou a subir?

 

(Ai o caralho, já levei com um número destes com um ex-responsável do andebol do Benfica, que queria que eu andasse à procura dele para lhe pedir autorização para cobrir um jogo de juniores para a revista “7 Metros”. A revista durou cinco números. Está satisfeito agora, senhor engenheiro?)

 

E eu, a respirar fundo

 

(“eu preciso te tocar e outra vez te ver sorrindo, e voltar num sonho lindo, já não dá mais para viver um sentimento sem sentido...(...) como um dia de domingo”)

 

E eu, a respirar fundo:

- Sou jornalista. Não estava ninguém cá em baixo. Para pedir autorização tinha de subir. Sem chegar a meio da escada não sabia quem lá estava em cima. Não se vê do vidro.

- Isso não interessa. Não se entra na casa das pessoas assim.

E eu, ainda com uma ganda pachorra:

- Acho que não tem lógica estarmos a aborrecer-nos.

E comecei um strip-tease da minha pasta, para ele ver que eu não tinha gamado nada. E ele:

- Não é isso que está em causa. Não preciso de ver.

 

(Ai, não? Ó povo, na Best Rock FM podem gamar tudo, que o Canibal não se importa)

 

- Desculpe, agora vai ver até ao fim, desde o stick desodorizante da Azzaro, até à carteira, passando pelos rolos de fotos. Se roubarem alguma coisa não posso aceitar que lance suspeitas sobre mim.

Mais uma frase ou duas, já a andar em círculo e o senhor disse:

- A conversa está acabada.

Virou-me as costas e foi-se embora. Já é o segundo a virar-me as costas. O primeiro foi o “segurança” do Herman. Foda-se, esta merda só me acontece com homens desinteressantes?

Tive uma namorada que era desconfiada como o caraças. Quando eu solicitava um “doggy style”, ela dizia sempre:

- Onde é que vais? Não é cu!

E eu nunca tentei. Aquilo eram traumas de infância.

 

RECADO PARA O SENHOR CANIBAL: no tempo do Império Romano, as sentinelas que adormeciam no posto e o abandonavam

 

(“ se tem luar no céu, retira o véu e faz chover sobre o nosso amor...chuva de prata (...) um beijo molhado de luz sela o nosso amor. Basta um pouquinho...”)

 

no tempo do Império Romano, as sentinelas que adormeciam no posto ou o abandonavam eram submetidas ao “Fustigarium”, porque punham em perigo a legião. E o que era o “Fustigarium” ? Uma série de camaradas de legião que matavam o prevaricador à paulada. Com meiguice, claro. Tipo zona “Fetish”, mas sem cera.

É óbvio que não estou a sugerir isso. Deixe-me que lhe diga: não se abandona o posto de trabalho. Quando não se quer que ninguém entre num local, fecha-se a porta ou põe-se um aviso: “Volto Já”.

Estou à sua disposição para confrontação física ou procedimento judicial.

Ambrósio, apetecia-me algo, como advogado de defesa. Talvez um... ex-professor do MRPP? Tipo Garcia Pereira. Doutor, e aquela noite no Bora-Bora? Agora já não dá para ir almoçar no “Café Creme”. Já fechou.

 

(“Baby, baby, eu sei que é assim. Você precisa tomar um sorvete...”)

 

Foda-se, caralho, puta que pariu. Até um dos hooligans do Sporting que me aviou em 2001 andava a passear no Salão...

Deixam entrar toda a gente...

E desta vez já não me apanhou pelas costas. Estava a tirar bonecos com uma loiraça no stand da Papillon...

 

(Kremlin, Berlim, só pra te ver...(...) ilusão, fugi, da fronteira de topázio (...) poder sonhar, estupidez...)

L.G.

 

  

DICKATORIAL

ATÉ AMANHÃ, CARALHADAS!

 

(Já não me tremem os dedos. Outra vez a ficar grogue. Mais uma Coca-Cola, que comprei no Galeto às 3 da manhã. Levei a panfletada do Salão e era tudo a ver caralhos, conas, sites e anúncios. Quarentões e trintões deslumbrados perante montra de Natal. E o meu amigo Mário: “Ó Duarte, cuidado, cuidado, olha aí..não abras assim o folheto...”)

 

(Nasceu o dia)

 

(... lua de mel, mamã mamã eu tou em lua de mel...)

 

Uma auto-puta no Técnico às 4 da manhã (as auto-putas são as que atacam de automóvel). Desafiei-a para escrever um diário em Setembro de 2004, mas ela pediu-me seis meses e avancei sozinho. Estou a aguardar resposta da editora. Alô, Alexandre? Quando puderes... sem crises. Venha de lá o “Belle de Jour” (livro saído do melhor blog inglês do ano, atribuído pelo “Guardian”, há dúvidas quanto ao facto de ser um jornalista a escrever ou uma verdadeira call girl), para continuarmos em putas.

 

(“Então tá combinado, é quase nada, é tudo somente sexo e amizade...”)

 

(“Índia, sangue tupi, tens o cheiro da flor...”)

 

A auto-puta vê-me aproximar e dá à manivela para abrir o vidro:

 

- Oi, tás boa? Lembras-te de mim? Sou o gajo que te desafiou para escrever um livro. Posso entrar aí para o lado? Está um vento lixado...

- Desculpa lá, se os clientes te virem vão-se embora. E eu também estou quase.

- Desculpa lá. Não me lembrei disso. Era só para te dar um cartão de um blog, com a minha cobertura do Salão Erótico. Sabes, acabei por escrever o livro sozinho.

- Obrigada. Tem uma crónica?

- Não. É os dias todos. É uma cobertura a fundo. Ou melhor, A FUNDA.

- Os meus clientes dizem que aquilo está uma porcaria. Que Barcelona é muito melhor.

- Isso é que não percebo. Mas alguma vez dá para comparar as duas coisas? Isto está a começar.

- Eles disseram que não havia sexo ao vivo.

- Isso têm eles contigo. E se quiserem sexo ao morto profanem umas campas e vão foder uns mortos. Alguns até merecem. Há mortos tão fodidos que mesmo depois de mortos ainda chateiam.

- Mas houve ou não sexo?

- E não foi pouco. Minetes, punhetas, vibradores, só não houve broche e foda heterossexual. Fica bem, bom trabalho.

 

(Volto para trás. Ela dá outra vez à manivela, dez segundos depois)

 

- Olha, podes pôr comentários no blog.

- OK, fixe. Talvez ponha.

 

Dou a volta ao quarteirão. Perto da Alameda, uma puta pedestre com frio e um ar muito meiguinho para mim:

- Amor, vamos dar uma fodinha.

- Obrigado. Desculpa lá. Não dá, tenho de ir escrever sobre isso.

 

(Uma carrinha pára cinco metros à frente)

 

- Deixa ver se este quer.

- Ciao. Bom trabalho.

- Obrigada.

 

Resumindo: números aproximados de espectadores do Salão: 40 mil. Tentei tudo para conseguir um número oficial, mas a bilheteira fechou às 20h30m e tinha já tudo combinado para ir lá saber. Mas a organização vai divulgar os números oficiais. Uma onda de fé, tipo totoloto: 42.327.

Porquê? Sei lá, não há coincidências, alma de pássaro, I’m in love with a Pop Star.

Aspecto comercial: fabuloso. Muito acima das expectativas.

E o salão foi mau?

Por amor de Deus. Como diria José Torres, antes da qualificação de Estugarda para o Mundial do México: “Deixem-me sonhar”.

Fiz todos os Estoril Open. Na primeira edição chovia como o caralho, a mulher do Lagos de joelhos no chão, a enxugar o piso, estava-se a ver que era preciso jogar a final à segunda-feira. Alguém se lembrou de comparar a chuva do Estoril Open com a de Wimbledon?

Fiz todos os Salões de BD da Amadora. No primeiro ano, começou calminho, o brilho no olhar de todos. Alguém se lembrou de comparar com Angoulême ou Barcelona?

Muitas vezes os amigos dizem-me: não sejas pessimista. Agora que eu estou optimista, anda tudo a dizer que o Salão foi fraco.

‘Tá bem, pronto. Os gritos eufóricos, a esporra a voar pela troposfera, as aglomerações, foi tudo uma ilusão de óptica.

 

Para o ano, já temos Salão em Julho. Parece que é de 6 a 9, disse-me o Juli Simon, mas a carola está mesmo cansada. E ele também.

- Só um momento. Um pequeno balanço...

- Completamente estoirado.

- Mas contente?

- Sim, claro.

 

Saiu a Gal Costa. São 7 e 16. Entrou “Discovery”, da Electric Light Orchestra. Levei o “Midnight Blue” para passar no ‘Quem vê caras não vê corações’, programa das 00/02 da Renascença, em Setembro. Entrevistaram-me por causa do “Neura 2004”, a minha mocada no Euro, editada pela Oficina do Livro. Também levei o “Hispaniola”, do Stan Getz. Pediram-me dois temas, mas lá nem os ouvi, isto agora é carregar no botão e um programa de duas horas fica aí em 1 hora e 15 minutos. Depois em casa um gajo ouve as músicas que eles puseram.

Onde é que eu ia?

Ah! Sim, Verão de 1980, uma garagem, Venda do Pinheiro. O “Midnight Blue” a tocar naqueles gira-discos Aciko ou Silvano. Eu muito abraçado à Maria João. O coração a picar-me mil agulhas, o cheiro dos cabelos, aquele vontade louca de lhe dizer que morria por ela. Um ardor louco pela espinha acima, a angústia de não saber o que dizer. E eu fartinho de saber: é só minha amiga. O dançar com ela, o chegar à cama com a utopia dos seus braços nos meus.

E a mãe do Diogo, no outro dia:

- Ouve lá, não andas a catrapiscar a João?

Eu nos meus 17, a João nos 15. E a malta a desconversar:

- O que é isso de catrapiscar?

E eu ficava a semana toda à espera de que chegasse o fim-de-semana, para ver a João. Mas era aquele contentamento descontente. O mergulho no verde em tons de “amo-te” daquele lago disfarçado de olhar.

 

“I need her love. (…) The world is good. I need her love. I need her love”.

 

Mas o que é que isto tem a ver com o Salão?!

Não perceberam? Todo o amor começa pelo sexo.

Até amanhã (Julho de 2006), caralhadas!

Dick Hard


     

 EU, A MILLY, AS HÚNGARAS

 O TÁXI E O RIO COM PINTA DE MAR

 

Para aí às 22 horas, já com o Salão quase vazio, vejo a Milly D’Abraccio carregada de embrulhos.

Foda-se! Sou ou não sou um cavalheiro?

- Milly, vai uma ajudinha?

- Grazie.

E deu-me uns três sacos com compras.

- Vais sair, Milly?

- Vamos jantar. Vamos apanhar um táxi.

- OK, eu levo-te até ao táxi.

Saímos. Com a Milly vinham duas húngaras, de maneira que eu falava italiano com a Milly e inglês com as húngaras. Mas até chegar ao táxi praticamente só falei com a Milly.

- Aguentas mais um saco? Toma lá!

E viemos a falar de tudo um pouco e das relações afectivas que se estabelecem com as estrelas porno. A Milly é mesmo castiça e não faltou contacto corporal. Íamos andando e ela tocou-me no braço aí umas 20 vezes. Eu aconselhei a caminhar 15 minutos, em vez de chamar táxi por telefone e ficar à espera. A Milly fez-se ao caminho, na boa. Os dois satisfeitos, na palheta. Eu lá ia dando uns pontapés na gramática, mas fazia-me entender.

E as húngaras a caminhar à frente, um bocado desconfiadas comigo e a pensar para com os botões delas: “Quem será este cabrão com quem a Milly vem a falar?”.

Quando viram um vulcão de água ficaram deslumbradas. Achei estranho. Nas vidas delas, o “money shot” é como um vulcão de água, só que mais pequeno.

Por acaso nem as identifiquei bem. Um gajo também não pode conhecer todas. Nem sei se fazem porno.

Bem, lá entrámos para o táxi. Deu-me na carola para as levar ao restaurante, pagar o táxi e seguir para casa. Mas nem sabia onde era o restaurante. Olha se elas iam para Cascais...

Afinal, era a Portugália ali de Alcântara. A Milly deu um papel ao taxista e eu, no lugar da frente, a falar italiano e inglês e a explicar o percurso:

- Museu Militar. Estação de Santa Apolónia...

A Milly gostou muito da arquitectura da estação do Oriente. Não achou piada nenhuma foi a uns “Fangios” que se atravessaram umas vezes à frente do táxi. Ou eu estava distraído ou já me habituei. O senhor vinha a fazer uma condução normal.

- Calma, Milly, isto não é Nápoles. A gente chega lá sem bater. Ainda vais jantar hoje...

E uma das húngaras:

- Isto é um rio ou o mar?

- É o rio Tejo. Tagus, em latim. Está cheio de cerveja.

E a Milly:

- Rio... fiume?

- Ah! pois, trigo limpo farinha amparo.

E a mesma húngara:

- Este rio é muito grande.

E a frase que eu gostava de ter dito, mas não me lembrei:

- E agora está mais pequeno. O Santana Lopes mandou construir  um casino tipo lacustre, com uma prancha para o professor Marcelo mergulhar e um sofá pneumático de onde podia fazer o comentário político, ao mesmo tempo que dizia adeus aos cacilheiros.

Lá chegámos. A húngara queria pagar o táxi, mas eu puxei dos galões. Era a imagem de Portugal que estava em jogo:

- Não, senhor! Era o que faltava. Eu já tinha dito que pagava e depois seguia para casa.

Para o senhor do táxi:

- Vou sair, mas é para me despedir. Não se preocupe que não fujo.

Beijinhos à Milly. “Tens os meus contactos, se quiseres apita, até para o ano se não for antes”. E lá seguiram as três até à Portugália, onde alguém devia estar a esperá-las.

Depois vim para casa, a estabelecer relações cordiais com o senhor do táxi. Até trocámos contactos. Comigo é assim. Cartões para toda a gente. Quem tem uma vida sexual altamente frustrante não se pode dar a luxos. É ir a todas.

Será que fui um bocado otário com a Milly? Ou seja, assim a modos que Millyonário?

L.G.


   

A VERA FUGIA SUBREPTICIAMENTE DA CAMA PARA VER CARALHOS E CONAS NA TELEVISÃO

 

Local: “Cine Paraíso”. Ciclo de cinema. Meia-dúzia de gatos pingados, para variar.

Missão de prospecção. Numa das últimas filas, a mais linda jovem que vi na sala, em quatro dias de visitas frequentes. Uma morena fabulosa, vestida de forma sensual e sofisticada, em tons de preto. Perna cruzada, piercing discreto na narina direita. Chama-se Vera, tem 24 anos completamente absolutamente-não-há-mesmo-nada-a-dizer- parabéns-ao-namorado-que-também-é- bonito- não-gosto-de-homens-mas-sei-apreciar.

- Dá-me licença. Sou jornalista e costumo falar com as pessoas aqui da sala. Está só? Está à espera do namorado? Está só a descansar ou gosta mesmo de ver porno?

- Estou à espera do namorado, mas gosto de porno.

- Desde quando?

- Desde muito cedo. Mesmo muito cedo.

- E via o quê?

- Via na televisão. A minha mãe apanhava-me e metia-me na cama.

E eu, no gozo:

- Mas a Vera já não voltava...

- Voltava, pois. Mal pudesse, regressava à sala para continuar a ver.

(Ai, o meu coração. Isto é que é dedicação à modalidade. Bonito!)

- Então e costuma ver os filmes com o namorado? O que vê? DVD, TV Cabo?

- Sim. Costumo com o namorado, mas também posso ver sozinha.

- E masturbam-se mutuamente, é?

- Sim.

- E já costumam estar nus no sofá, preparados para o sexo?

- Sim, mas depende.

- E usam a pornografia como preliminar?

- Exactamente.

- E têm quase sempre sexo ou às vezes toca o telefone e saem, ou perdem a vontade, ou mete-se outra coisa qualquer...

- Não, quase sempre temos sexo a seguir.

- Aí uns 80 por cento das vezes?

- Mais. Aí uns 90 por cento.

 

(Chegou o namorado. Sentou-se ao lado da Vera e ficou curioso a olhar para mim. Apresentámo-nos. Passo um cartão do blog porcalhoto. Senti instintivamente que já tinha conquistado a credibilidade de um jornalista conceituado. Estava quase a acabar de falar com a Vera, por isso só troquei palavras de circunstância com o afortunado namorado)

- Ó Vera, gosta mais de pornografia heterossexual ou gay? Há mulheres ali na zona Gay que são heterossexuais e estão lá a assistir, muito entusiasmadas...

- Gosto de tudo.

- Actores e actrizes favoritas?

-Ai, nomes não fixo...

Aperto de mão, agradeço e despeço-me.

Cá fora, recobro o fôlego. A vida pode ser tão bonita.

L.G.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Afunda-te nos números anteriores:

   

Número três - o dia da funda São na ExpoFoda

  

Número dois - o dia dos Ena Pá 2000 na ExpoFoda

 

Número um - o primeiro dia da ExpoFoda

 

Número zero - a apresentação da ExpoFoda

 

 

 

 

 

 

  

Ediclitoridial da São Rosas

 

Isto tem que ser dito: o Luís Graça é um profissional 

do caralho (eu sei, eu sei, que para muita gente isto 

não é um elogio, mas para nós é o maior que podemos dar).

Trabalhar com um horário de morcego e ter em casa um

computador fodido, não é nada erótico. Assumiu a misSão. E não

sei se a tem comprida, mas cumpriu-a. Para ele, em nome

de toda a restante equipa da FundiSão, os nossos votos de

umas boas noites de sono.

Depois, haverá mais, porque há ainda muito para contar

da ExpoFoda. Ah, e fodografias. Para quem não sabe o

que são fodografias, aconselho uma consulta ao DiciOrdinário.

 

São Rosas

  


(fo)dia-a-(fo)dia do I Salão Internacional Erótico de Lisboa

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